A Acupunctura e a Dor Crónica
Os dados em Portugal sobre a Dor Crónica dizem-nos que 37% dos portugueses são afectados, mais mulheres que homens (46% e 25%, respectivamente), custa 4,6 mil milhões de euros ao Estado por ano (dois mil milhões em consultas e medicamentos, 2,6 mil milhões indirectos, em absentismo e reformas), o que perfaz 2,7% do PIB, e há 60 unidades de dor para todo o país. *
Desde a década de 70 que se estudam os mecanismos do controle da dor através da acupunctura. Independentemente das várias descobertas e teorias feitas ao longo do tempo, sabe-se que a acupunctura é um dos métodos com percentagem apreciável de eficácia no controle da dor, quer nociceptiva como a neurológica. **
A teoria clássica da Medicina Chinesa defende que toda a dor é provocada por um bloqueio, de energia ou de sangue. Esses bloqueios podem ser devidos a causas exógenas, endógenas ou mistas. Por isso, a teoria clássica manda que, em caso de dor, se diagnostique e se trate a causa. Sem essa abordagem terapêutica a dor continuará a aparecer e persistir.
Claro que, nos tempos que correm e com as abordagens mais modernas e científicas da Medicina Convencional, a dor é vista e conhecida de outra forma sendo, não só um sintoma de uma qualquer causa, como uma patologia em si quando algum dos mecanismos falha. Outras patologias têm mecanismos de dor ainda desconhecidos, como é o caso da Fibromialgia.
Com o aparecimento da Electroacupunctura (estimulação eléctrica de pontos de acupunctura através das agulhas) o controle da dor na Medicina Chinesa atingiu outro nível terapêutico. Abordagens menos clássicas defendem o controlo da dor sem a preocupação de um diagnóstico holístico ou da origem da dor. Foi a forma da Medicina Convencional usar estas técnicas como mais uma ferramenta do seu arsenal terapêutico, criando o que chamaram “Acupunctura Médica”, já que não usam o diagnóstico da Medicina Chinesa, limitando-se a controlar a dor através da electroacupunctura e medicando de acordo com a Medicina Convencional a patologia que a provoca. Mas, na Medicina Chinesa, só o facto de a dor ser aguda ou crónica muda a abordagem terapêutica, sendo que uma dor aguda, normalmente, deve-se a uma plenitude, isto é, há um afluxo energético “a mais” num determinado ponto, o que provoca a dor, e uma dor crónica, normalmente, deve-se a uma insuficiência energética, o que provoca um bloqueio por falta de energia e movimento. A abordagem terapêutica, nestes dois casos e na Medicina Chinesa, obriga à utilização de frequências diferentes na electroestimulação, assim como de protocolos de acupunctura sistémica muito diferentes entre si.
Na Medicina Chinesa de hoje, defendo que a Dor Crónica deve ter uma abordagem clínica que contemple a urgência de controlo do sintoma, isto é, da dor em particular, mas também do tratamento da sua origem patológica, tornando-se obrigatório e fundamental o diagnóstico da causa da dor.
Obviamente, em muitos casos, esta tarefa não é simples nem fácil. Sabemos que a Dor Crónica pode ter tantas origens conhecidas como desconhecidas mas, na Medicina Chinesa, usamos fundamentalmente, para além da acupunctura sistémica, a Fitoterapia (medicamentos feitos à base de plantas), para tratar a patologia que está a causar a dor. Outras técnicas podem ser complementares para as terapêuticas, como a Moxibustão (estimulação por calor), massagem Tui Ná ou Chi Kung (ginástica respiratória).
Resumindo, a abordagem da Medicina chinesa para a Dor Crónica deve ser completa, dando primazia ao controlo da dor como sintoma, mas diagnosticando e tratando também a sua causa, acreditando que, sem essa abordagem, a dor persistirá. Os tratamentos na Medicina Chinesa não implicam que se abandone a Medicina Convencional. Pelo contrário, as duas medicinas devem trabalhar em conjunto para um melhor controlo da dor, do entendimento da doença e da eventual resolução do elemento patológico, visando o melhor conforto para o doente.
Joaquim Morgado
* Dados in Diário de Notícias 24.02.2018
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S200529011300174X
https://www.hindawi.com/journals/ecam/2013/187182/
https://pdfs.semanticscholar.org/00ed/2e1140c9f2cff0a77f4f6f79310c4c354819.pdf
https://academic.oup.com/bjaed/article/7/4/135/466586