Como lutar contra a depressão do Novo Corona Vírus

Sobre a pandemia do Novo Corona Vírus só temos uma certeza.

Na ausência de uma vacina só conseguiremos erradicar o vírus cumprindo quarentenas, isolamento e regras profiláticas. Isso implica uma disciplina férrea das sociedades, que é difícil de imaginar por agora, especialmente em sociedades como a nossa. Mas terá de ser assim, sob pena da quantidade de mortes aumentar  para números impensáveis. Portanto ficaremos, mais tarde ou mais cedo como em Itália, confinados ao espaço de nossas casas e pouco mais.

Um dos perigos de saúde que isso implica tem que ver com o nosso sistema nervoso. O medo, a ansiedade, a angústia, o stress, mais tarde o pânico, a paranóia, a mania, poderão ser resultados desse confinamento espacial e social que se adivinha imperativo. E todas essas emoções, respostas do nosso sistema nervoso, trarão consequências no nosso sistema imunitário, inibindo-o e portanto enfraquecendo-o. Resulta assim o isolamento num enfraquecimento do sistema imunitário, o que implica que o isolamento tenha de ser maior e mais rigoroso, criando mais emoções e deprimindo assim mais e mais o sistema imunitário, criando um vício circular. 

Para além disso, as próprias emoções sentidas são, desde o seu início, patológicas, desagradáveis, indutoras de sofrimento, e potenciais veículos para outros problema de saúde tornando-se assim sintomas de problemas mais graves

Devemos então reconsiderar o isolamento? De modo nenhum!

Mas podemos minimizar os efeitos das emoções se as conseguirmos modular para o que queremos, neste caso, o fortalecimento do sistema imunitário e a manutenção da nossa saúde psíquica e física.

Estamos em isolamento físico, mas podemos comunicar. Através dos telefones, do e-mail, dos inúmeros programas digitais para comunicação via internet, até por cartas físicas, se o carteiro não estiver também em isolamento. É natural que o tema das comunicações, nestes tempos, seja centrada nas preocupações e problemas resultantes da guerra contra o vírus, das medidas tomadas, dos resultados e, sobretudo, dos perigos, de todos os perigos. Os clínicos, os sociais, os económicos, os ambientais. 

Mas é fundamental que tenhamos também conversas de outra índole. Temos de cimentar conversas de teor positivo, brincalhão. A responsabilidade dos actos de constrição não tem de ser seguida pelo discurso diário. No dizer e falar podemos e devemos ver todos os lados positivos das medidas tomadas pelas autoridades, no que vai acontecendo, nas novas situações. Devemos brincar com as situações, armarmo-nos de bom humor, despreocuparmo-nos um pouco sem nunca baixar a guarda. Encarar as situações profiláticas como a normalidade diária e não como um fardo. Arranjar ocupações e entretenimentos em que tenhamos prazer ou onde nos sintamos úteis. Para uns será ouvir música, fazer amor, ver séries ou falar com amigos, para outros talvez pensar em soluções técnicas que ajudem os hospitais a combater este flagelo, arrumar finalmente a casa, experimentar receitas, ler os textos chatos que um amigo não pára de enviar. A cada um as suas ocupações que o façam sentir bem, útil e com força. 

Da mesma forma que o nosso sistema nervoso é sensível às emoções negativas, também o é às positivas. Se no primeiro caso o resultado pode ser a depressão do sistema imunitário, no segundo caso resultará num reforço desse sistema. Podemos e devemos modulá-lo. Temos essa obrigação fisiológica.

Na Medicina Chinesa sempre foi defendido que o mental pode gerar patologia física e que a patologia ou agressão física pode gerar problemas no mental. Uma das armas que esta medicina tem para prevenir patologias e saúde mental é a ginástica respiratória. Disciplinas como o Tai Chi ou o Qi Gong (ou Chi Kung) são usadas para harmonizar corpo e mente. Seriam tremendamente úteis neste tempo de isolamento. 

Para não ficarmos todos tontinhos e fracos das canetas por estarmos fechados em casa à conta do vírus poderíamos todos fazer exercícios destes, como fizeram diariamente doentes e não doentes na China durante toda a crise sanitária do vírus. Nos hospitais, em casa, onde fosse e pudesse ser. No entanto, por razões culturais e idiossincráticas, não me estou a ver, assim como a maior parte dos portugueses, a saltar para a internet para aprender um curso intensivo de Tai Chi e a praticá-lo todos os dias ao acordar. Não joga connosco, não faz parte de nós, não se integra na cultura e sociedade portuguesa, não nos diz nada. 

Mas talvez haja outras coisas que são muito nossas e que talvez, embora não sejam eficazes como os Tai Chis e os Chi Gongs, possam ajudar. Cá está uma lista com sugestões, mais ou menos parvas. Se vos conseguir arrancar um sorriso já não é mau:

  • Espreguiçar. Aquela coisa que nos ensinaram quando crianças ser feia, afinal e na perspectiva da Medicina Chinesa, é muito boa. Estimula meridianos, energias várias, equilíbrio de Yin e Yang, músculos e tendões, oxigenação, sistema nervoso e, claro, sistema imunitário.
  • Respirar profundamente. Quando bocejamos estamos a responder a um estímulo involuntário do organismo para uma oxigenação suplementar. Isso faz com que tudo funcione melhor. Podemos portanto fazê-lo de de forma voluntária inspirando profundamente umas quantas vezes enquanto caminhamos pela casa. Podemos juntar movimentos, como abrir os braços quando inspiramos e fechá-los quando expiramos. Estão a ver a ideia?
  • Sesta. A sesta é o Yoga ibérico, disse-me um amigo há muito tempo. Não será tão completo como o Yoga sem ser ibérico, seguramente, mas a sesta é tremendamente eficaz para uma série de coisas e a Medicina Chinesa defende-a desde sempre. Uma sesta de 20 a 30 minutos estimula o repor energético do organismo no dia e entre esforços quando se dispensa energia. Por outras palavras mais convencionais, a sesta promove a libertação de endorfinas, ajuda o sistema nervoso, o muscular, a regeneração celular, o metabolismo e, claro, o sistema imunitário.
  • Fazer amor. Convém que seja com alguém que esteja no isolamento connosco, não é? Não vale pensar em ir ter com o amante na outra ponta da cidade. Já sabemos que o sexo estimula a libertação de endorfinas e melhora a circulação, a oxigenação, o sistema imunitário, o sistema nervoso e o ego.
  • Máquinas de exercício físico. Quem tiver bicicletas, máquinas de remo, pesos e halteres, ou outras máquinas que permitam exercício físico em casa, vão buscá-las aos cantos onde as deixaram há meses ou anos e usem-nas. Com moderação, devagar e persistentemente. Pouco tempo todos os dias e com pouco esforço resulta mais do que pensar que estamos a concorrer às olimpíadas. 
  • Apanhar um pouco de sol. Escolham o terraço, uma varanda, marquise ou janela para apanhar um pouco de sol por dia. Quase todos os dias temos sol directo. 10 , 15 minutos por dia, estimula a indispensável hormona vitamina D, dá-nos calorzinho (energia Yang), boas cores, promove a micro-circulação, liberta endorfinas, melhora o sistema imunitário.

E pronto, vamos vencer este vírus sem ficarmos tontinhos de todo.