Solidariedade

Solidariedade

Num destes dias estava de conversa com um amigo que tem duas casas em aluguer de curta duração.

Contava-me que tem uma delas alugada a uma moça francesa que tem a sua própria casa em obras. A moça alugou-lhe o espaço calculando o tempo de obra em sua casa mas, com toda esta embrulhada causada pelo vírus, a obra teve de parar, o tempo passou e a moça ficou sem dinheiro e sem tecto. O meu amigo deixou-a por isso ficar na casa que ela já estava a alugar, cobrando para isso um preço mínimo. 

Na segunda casa, porque estava vazia, o meu amigo decidiu pô-la à disposição para a Direcção Geral de Saúde, para poderem usá-la para profissionais de saúde que precisem de poiso para pernoitar ou descansar do seu exercício extraordinário. Dá assim uso aos dois espaços que comercializa para os turistas que agora não estão cá. 

Enquanto ele me contava isto, pensava eu na grandeza do seu gesto, na nobreza da oferta. Agradado, pensava na humanidade daquele homem nestes momentos difíceis da sociedade. Acabei por lhe dizer “De facto, este é o tempo para ser solidário”. A sua resposta envergonhou-me e fez-me pequeno: “Todos os tempos são tempos para ser solidário”.

Tem razão, não tem, o meu amigo? Deveríamos ser solidários em todos os tempos, em qualquer altura. Mas, para o sermos, temos de ter esse princípio, esse valor, presente sempre em nós. E isso depende de como nos educaram e se esse princípio ficou imbuído em nós. Senão, e sendo pontual, o princípio de solidariedade pode confundir-se com a pena, com o interesse próprio, com o clientelismo. Compete aos pais educar os filhos nesse sentido amplo, passar-lhes o valor de comunidade, de entre-ajuda, de humanidade. E exemplos como o do meu amigo têm de ser mostrados.

O que ele fez não é difícil. Tem a ver com a simplicidade de ajudar alguém que nos está próximo com aquilo que se tem ou como se pode. Nada mais. Podemos e devemos fazê-lo no dia a dia. Todos os dias, cada um à sua maneira, com quem se vá cruzando connosco. Solidariedade sempre.