Nunca fui de vegetarianices
Nunca fui de vegetarianices. Sempre achei essa cozinha deslavada, sensaborona, insossa. Ou cheia de ingredientes que não são do meu agrado. Abóboras, cenouras, nabos, ervilhas, tudo cozido, prometem tornar qualquer tentativa culinária num prato meio doce e a evitar. As saladas, frias e cruas, não me convencem a saciedade nem o paladar de prato principal. Foram-me dizendo que não conhecia a cozinha vegetariana e que era por isso que dizia não gostar dela. Tive uma cunhada dona de um restaurante. Vegetariana, ela e o restaurante, excelente cozinheira, deu-me a provar pratos magníficos, sem dúvida. Mas não me convenceu, nem por sombras, a uma dieta como a dela.
Ou a cozinha vegan. Pior. Aqui, tentam à viva força substituir tudo o que vem dos animais por coisas que nunca poderão substituir os produtos animais. Leites que não são leites, salsichas que não são salsichas, hambúrgueres que não são hambúrgueres, ovos que não são ovos. Não há paciência! Mais uma vez, uma amiga que é vegan deu-me a provar excelentes acepipes, mas o que pretende ser o que não pode nunca ser, não me convence em tempo algum.
Felizmente passou a moda da macrobiótica. Lembro-me vivamente do cheiro nauseabundo do arroz integral ou da soja cozinhada, agarrado às paredes de minha casa, quando aluguei em tempos idos um quarto a uma moça que tentava fazer uma dieta equilibrada daquilo. Que maluqueira. Intervalava, claro está e porque gostava de facto de comer e não aguentava mais, as suas hediondas refeições macrobióticas com os meus cozidos à portuguesa, os caris goeses, ou frango estufado com massa de pimentão.
Enfim, sempre gostei da boa gastronomia portuguesa, tão variada e completa, tão saudável como mortal mas, indubitavelmente excelente. Mas confesso que já há muito tempo que me incomodava a quantidade de carne e peixe consumida diariamente. Para além do incómodo moral tido com a exploração desenfreada e cruel dos animais, não me cai bem a mortandade de milhões de animais todos os dias, em cada dia da nossa vida, por esse planeta afora. E, a verdade é que o Zé Portuga come, por hábito, carne ou peixe duas vezes por dia. Ora, problemas morais à parte, isto é um exagero extremo de proteína animal, qualquer nutricionista o confirma. Para além disso, ainda temos o problema da quantidade que se come hoje de carne ou peixe em cada prato. Se dantes o acompanhamento era o mais abundante no prato, e a carne ou peixe se representava por um pedaço pequeno, agora é ao contrário. Como exemplo, no outro dia fui buscar a um restaurante umas favas à portuguesa. Estavam fantásticas, mas encontrei mais carne que favas. Lembro-me de quando era pequeno e a carne era a suficiente para dar sabor às favas e ao molho, nada mais.
Seja como for, nunca fui de vegetarianices. Não me ia bem. Comecei por reduzir a quantidade de carne ou peixe na refeição. Voltar à quantidade mais equilibrada de antes. Foi bom. Ma continuava a ser muita proteína animal.
Um dia, completamente por acaso, dei com um site francês de comida vegetariana, na internet. Ou melhor, olhei de relance a fotografia de um prato nesse site. Atraiu-me a atenção o aspecto familiar do prato. Era um estufado, ou guisado, com ar saboroso, cheio de molho, rico. Fui ver o que era. Li a receita. Gostei do que li. Decidi-me a experimentar.
É um site vegetariano feito por uma moça que gosta de cozinhar e outra que é nutricionista. Juntam-se as duas para cozinhar de uma maneira muito parecida ao que nos é conhecido e tradicional. Refogado com azeite e alho, cebola, tomate, umas especiarias, ervas de cheiro. Misturam feijão, grão, lentilhas ou cogumelos, com massa, arroz ou cuscuz, mais espinafres, couves ou acelgas, fazendo de facto refeições equilibradas e boas. Se quiserem ver e souberem francês, aqui está o link: https://menu-vegetarien.com/recettes/one-pot-pasta-haricots-rouges/
Experimentei uma receita, gostei, experimentei outra e gostei outra vez. Fui de receita em receita, comprei mais ingredientes, experimentei inventar sozinho, procurei mais sites. A verdade é que, ao fim de algumas semanas, baixei imenso o consumo de proteína animal. Para níveis mais do que aceitáveis. Sem me tornar vegetariano, ou vegan ou seja o que for.
E aproximando-me do que a Medicina Chinesa, e a minha avó, sempre defenderam: Comer de tudo um pouco e não abusar de nada.
E, já agora, continuando a ter um enorme prazer na culinária, na degustação, na riqueza da gastronomia, cumprindo a tradição mediterrânica e portuguesa. Bem bom!