Paixão, amor e dor

Há uma história de amor que vem sido escrita nas paredes de Lisboa. Podem ler-se nas frases escritas nas paredes da cidade todo o desenrolar da história nas suas várias fases. 

Primeiro a fase do apaixonar, talvez a mais bonita, sem freios, em que as frases dizem que é tão bom apaixonar-se. Descobre-se o espanto, a admiração, a sensibilidade exposta, o não querer saber de nada a não ser a paixão. 

Depois a fase do deslumbre da paixão, o seu viver, a sua continuidade, a entrega, nas frases como “I keep falling for you. It’s so good”. O assumir de uma relação que continua a crescer da paixão inicial. Talvez a fase mais saudável.

A seguir veio a desilusão. E a raiva, com ela. Frases como “A kiss and a hug and a couple of fucks. Being in love really sucks”. A violência da frase demonstra a desilusão de quem agride da forma como pensa que o ser amado sentiu e viveu a relação. A rejeição de tudo o que, quem escreve, sentiu, a recusa do amor como coisa boa, a destruição do amor e da paixão através da banalização do contacto físico, da própria apreciação moral que lhe faz. Talvez seja esta a fase mais feia da história. 

Depois a dor, aparecendo pouco a pouco, dominando tudo, já aceite, sem mais lutas nem raivas nem ódios. “May I pay by pain?” ou “I thought being beautifull was enough”. O vazio do que se pensou da beleza é esmagado pela imensidão da dor na curta frase que pergunta, que implora. A fase mais visivelmente dolorosa, mais íntima, menos exposta. 

No final, a entrega de todos os pontos, toda a tristeza de quem está completamente só, de coração partido, procurando-se no que já não tem, destruído, perdido, sem luz, sem ver lógica ou cor. “Be here and now. Without you. How?” Talvez a fase mais dilacerante, a mais triste, a mais calma, a mais solitária.

Esta é mais uma história de amor em Lisboa que, infelizmente, não correu sempre bem e não durou para sempre. Como quase sempre nestas histórias, há um dos intervenientes que foi magoado até ao ponto que descrevem as frases. Até se perguntar como é possível estar ali e agora, sem o ser amado. Como, pergunta? Não pergunta sequer porquê. Pergunta como. O impossível que aconteceu ficou à vista.

Não se percebe, nesta história, se quem a escreve nas paredes da cidade é homem ou mulher. Por vezes parece homem, na exuberância das primeiras fases, mas contém a cada momento a sensibilidade, que parece mais feminina. Não interessa. Trata-se somente de um testemunho de uma história que aconteceu com muitos de nós e que poderá acontecer a todos. Uma história universal, que contém todas as histórias, únicas e diferentes, de cada um mas que nos mostra o que somos e sentimos num todo. Muito mais do que sujar as paredes de Lisboa, esta narrativa ilustra uma cidade onde a paixão e o amor acontecem mas onde também são destruídos, com tudo o que isso implica. É, pois, um aviso para todos, uma partilha anónima, um testemunho, um exemplo do que pode ser a cidade, os seus momentos, bons e maus, as emoções, Lisboa brilhante e Lisboa negra, Yang e Yin.

Poderemos assim pensar no que será a próxima fase desta história. Esperemos que quem sofre agora desta maneira se possa apaixonar outra vez, recomeçar um ciclo, talvez começar outra história que acabe bem e que dure para sempre, desta vez. Ou perto disso…

Mas, para isso, é preciso que o narrador desta história exista, que não se mate pelo caminho, que não desista de si, que não ceda à dor e destruição que há agora nele. O amor pode criar como destruir, assim o sabemos.

Ou seja, o narrador tem de se tratar, se quiser sair de onde está, pouco a pouco, com trabalho e tempo. Se quiser tratar das feridas que nunca mais fecharão mas que podem doer menos. Até talvez se esquecer delas. 

A Medicina Chinesa obtém bons resultados no tratamento da ansiedade e da depressão, no pensamento obsessivo, na ritualização.

A acupunctura, associada à fitoterapia, é um tratamento que deve ser tido em conta antes do tratamento psiquiátrico ou com o tratamento psiquiátrico ou psicológico.

Uma paixão que acaba como esta história tem de ser tratada e ajudada. 

A Medicina Chinesa é um dos meios.