Quando era mágico

Lembro-me quando era mágico. Podia levitar e viajar assim no ar, nos meus sonhos.

Normalmente sentava-me no chão sobre as pernas, deixava-me sentir como que uma corrente agradável logo assim por debaixo da pele e, depois, nem sequer pensava que queria ir para ali ou acolá. Ia, simplesmente. Era uma coisa mágica. Podia controlar a velocidade, as direcções…

Lembro-me que começava devagar, baixinho. Sentia aquele tipo de cócegas, mas que não eram cócegas, por debaixo da pele, como a querer sair. O corpo elevava-se com leveza e elegância, depois tomava uma direcção. E não tinha mais peso, quase que deixava de ter substância. E era bom, tudo era bom.

Nas primeiras vezes em que sonhei tudo isto, a altura a que me elevava no ar era pequena. Havia como que um limite para a altitude que conseguia atingir. Uns meros centímetros acima do chão. Mas depois, como o sonho era recorrente, pude treinar aquele elevar e tentar ultrapassar aquele limite que o sonho me impunha. Logo consegui aumentar a liberdade de movimento e fui eu mais livre, mais solto. Havia sempre um limite, mas agora esse limite estava muito expandido. Já podia voar como voam os aviões, ou melhor, os helicópteros mas sem o barulho, o vento e todas aquelas coisas. Mas, talvez o que gostava mais era de flutuar junto ao tecto, ir observando as pessoas e as coisas a partir de lá de cima. Já conseguia fazer tudo isso sentado ou deitado, relaxado, sem medos.

Tornei-me bom nisso. Cada vez sonhava mais e mais com este levitar e sentia-me bem, inteiro, leve, livre. Não havia quedas nem perigos.

Um dia o sonho acabou, pura e simplesmente. Fiz esforço para sonhar aquilo outra vez. Adormecia a pensar no levitar e como o conseguiria, tentei induzir o sonho através da mente. Nada funcionou. Desapareceu, só isso. 

Voltei a sentir-me pesado, imóvel, no mesmo sítio. O sonho recorrente transformou-se em pesadelos, em acordares, em sonhos sem sentido. Senti-me triste, de uma tristeza lamacenta, agarrada a mim, pesada.

Depois, aos poucos, fui aprendendo a viver assim e lá fui desistindo de levitar outra vez. De outra vez tive um pesadelo que me dizia, de forma tão agressiva quanto se pode, que nunca mais teria sonhos desses. Senti o vazio.

O objectivo agora seria não sonhar de todo. Ter sono tranquilo, apagado, descansado, acordar e levantar-me no dia seguinte, para a vida, não para os sonhos.

Mas, quando me lembro quase todos os dias de quando era mágico quando sonhava que levitava, nesses pequenos momentos, sorrio porque não posso deixar de o fazer.

Na Medicina Chinesa os sonhos e pesadelos têm importância. São manifestações do nosso espírito e mente que demonstram e são sintomas de agitação ou tranquilidade. Essa inquietação mental é manifestada por desequilíbrios no nosso corpo que, por sua vez, desequilibram a mente. Há assim como que uma “pescadinha de rabo na boca” que se autoalimenta, podendo criar espirais e quedas, gerando frustração, raiva, cansaço, desorientação, etc. 

Para tranquilizar ou parar pesadelos, sono agitado, falta de descanso, é preciso quebrar esse ciclo e tratar o que está desequilibrado, tanto no físico como no mental, atingindo assim um sono tranquilo e reparador.

Venha experimentar tratar com a Medicina Chinesa o equilíbrio do seu sono e ter bons sonhos.