(Medicina Chinesa) A música dos amoladores

Flauta de amolador

Hoje de manhã acordei ao som de um amolador que passava na rua. Notei qualquer coisa de estranho naquela melodia de flauta de Pan de plástico que eles usam. Ainda levei um pouco de tempo a perceber o que me estava a estranhar, depois percebi de repente. 

A melodia era outra. Quase a mesma mas simplificada, sem a sucessão nem ordem de melodias que era característica dos amoladores em Lisboa. Este era um retrato dos tempos que agora são. Tocava sempre o mesmo trecho, a mesma coisa, com a melodia simplificada, desinteressante, sem alma. Repetia o que já não se podia chamar cantilena, apenas uma sucessão que se poderia dizer rítmica. Um amolador moderno, portanto. 

Continua a haver alguns amoladores em Lisboa, mas é verdade que as melodias têm tido tendência para ficar piores, amputadas e sem alma, esquecendo a música que qualquer amolador de outrora sabia, tocava, aprumava e que toda a gente reconhecia. Havia como uma espécie de concorrência entre eles para ver quem segurava as notas e o fôlego mais tempo, antes do brrrriiinnn agudo do final. E havia sempre esse final, do grave para o agudo, rápido, incisivo, como se dissesse “Estou aqui. À sua espera”. 

Os tempos são outros mas os amoladores continuam a arranjar chapéus-de-chuva e a amolar facas e tesouras. Os carrinhos foram substituídos por bicicletas e agora a música é outra. 

Mas há outra coisa que o amolador sempre trouxe. Melhor do que qualquer boletim metereológico, todos sabem que quando se ouvem amoladores na rua vai chover, no dia ou nos próximos. Talvez hoje se fiem nos boletins metereológicos também eles, mas continuam a avisar chuva próxima. Sempre tiveram, antes do arranjar chapéus-de-chuva e amolar facas e tesouras, a função da água, o lavar das ruas, o “abriguem-se”, a rega das hortas na cidade. 

Gosto deles. Gosto que continuem a existir. Mesmo que sejam agora modernos e que não saibam a música que a eles próprios devia anunciar. Mas, desde os tempos idos, fiquei sempre com uma dúvida: os amoladores anunciam a chuva que vem ou trazem eles a chuva que precisamos? 

E para isso, penso que a música que havia deles é e será importante. Talvez seja por isso que há menos chuva agora. Talvez os modernos possam aprendê-la, a melodia que sempre houve.

Na Medicina Chinesa, os estímulos, como a música, são de extrema importância para o equilíbrio ou desequilíbrio da saúde de uma pessoa. Venha falar sobre isto connosco.