Papéis Rasgados
Pensei: E se me desaparecessem todos os escritos que escrevi até hoje? Tudo o que escrevi. Pensamentos, ideias, organizações, recados, coisas a fazer, listas de compras…Mas também cartas, poemas, textos poéticos, textos maiores e mais pequenos, cartas de amor, emails, mensagens, memórias…
Pedaços de papel rasgado à minha volta. Às vezes conseguem-se ler pedaços de frase nesses pequenos fragmentos. Fragmentos do que escrevi, do que vivi, desfeitos em pequenos papéis onde se podem ler somente pedaços de frase. E à minha frente são rasgados mais e mais papéis, voam num vórtice, rodopiam no espaço, leva-os o vento, os fragmentos e as palavras. Até não restar nada.
Agora a minha vida só está na minha memória. Lembro-me de alguns textos por alto, um poema ou outro, cartas de amor e paixão… Pensamentos também, uns quantos, vontades, frustrações, alegrias…E depois vai-se apagando, aos poucos, a minha memória, apagando as palavras, os pensamentos, os sentimentos, as emoções.
Cada vez me acalmo mais. Já quase nada me aborrece, nem me indigna ou me apaixona. Estou só eu, sem saber que sou eu, sentado no meio daquele nada, sem luz nem som, sem mundo. Não sinto nada, finalmente. Serei feliz? O que é ser feliz? Não penso, por isso não sei.
E depois, aos poucos, a luz apaga-se. Todos os meus escritos desapareceram.
A doença de Alzheimer e outras demências podem ser atrasadas por alguns tratamentos, entre os quais os da Medicina Chinesa.