Chega Agosto
Chega Agosto. E com ele o calor das férias, a praia, o campo, a casa de férias alugada, o avião para um outro país que também tenha praias e casas de férias para alugar.
E, mesmo que não fiquemos bons por isso, ficamos todos bons porque estamos de férias. A saúde melhora logo, as dores amainam noutras paragens com outras atmosferas, a barriga habitua-se a novas comidas, a energia que tanto nos faltava parece renascer. Deixamos de precisar de médicos, hospitais e outras coisas que tais e tiramos também férias de todas as mazelas que possamos ter, coleccionar, sofrer e tratar. As férias curam quase tudo.
Entre o sol abrasador e impiedoso das praias, a água mais quente do mar, das barragens ou o fresco dos rios, o verde das poucas florestas que nos restam (os eucaliptais não contam), as cores das flores que ficaram da Primavera e as cervejinhas geladas, o tinto com as sardinhas e as sobremesas-porque-estou-de-férias-e-não-quero-saber, passa-nos tudo e queremos tudo. Deixamos as depressões nas discotecas, nos bares ou no enlevo de uma paixão de Verão que por enquanto não é dolorosa.
Enfim, sentimo-nos bem e não precisamos de qualquer espécie de terapia que não sejam as férias.
Talvez seja por isso que tenho sempre menos pacientes durante o mês de Agosto. Os que tenho são os poucos que cá ficam, por uma razão ou por outra, os que não têm férias em Agosto ou os que têm patologias agudas ou urgentes. É um mês de reflexão, para mim. Estudo um bocadinho, leio outras coisas que não têm nada a ver com a profissão, bebo um copo com algum amigo que fique por aqui, deambulo pela cidade, entre os turistas e as lojas de kebab e recuerdos, conto os tuk-tuks que passam na esplanada onde estou.
No fundo, faço também eu uma espécie de período mais ou menos de férias sem serem férias. E preparo-me para o que vem depois das férias.
Depois das férias é preciso tratar. De todas as coisas de saúde que deixámos por tratar, do corpo intoxicado de tantos excessos, da energia que se esgotou e de que precisaríamos de outras férias mais calmas para a repor. Das insónias que voltaram, da dorzinha que afinal não desapareceu dali daquele sítio, do Covid que se apanhou e agora tenho uma coisa que não tinha antes. Da porcaria da depressão que voltou e não me larga, do desgosto de amor da paixão de Verão acabada, da ansiedade de voltar ao trabalho.
De qualquer forma, as férias fazem bem. Para quem está de férias e para nós que os podemos ajudar antes e depois delas. Ainda bem!
Não se esqueça de me vir visitar depois das férias, para entrar em grande no período do não-férias e da longa preparação para as próximas férias.
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